sábado, 27 de dezembro de 2014

Arrendar ou Comprar?

A responsabilidade de arrendar uma casa é muito inferior à de comprar. Quando arrendamos uma casa não nos preocupamos muito porque a casa não é nossa e, no futuro, não vai passar para os nossos filhos e netos. Mesmo que tenhamos governantes/as, criados e cozinheiros, não nos preocupamos muito se a casa, na sua estrutura está arranjada. E embelezamos com cuidado apenas aquelas partes que vamos mostrar aos outros “para inglês ver” (às vezes nem isso). Os proprietários da casa acabam sempre, depois, por arcar com o “bolo final” das contas daquilo que não foi cuidado convenientemente. Raros são os inquilinos temporários que, realmente, se preocupam.
Quando compramos a coisa muda de figura. Compramos algo que escolhemos, pelo qual lutamos dia após dia, fazendo as contas para saber que casa podemos pagar no final do mês e com que luxos podemos viver, mesmo que seja outra pessoa a pagar a casa que é nossa, temos este cuidado porque não a queremos perder. Queremos que seja permanente, que passe para os nossos filhos e netos com o mínimo encargo possível para as futuras gerações. Cuidamos da casa com amor e carinho. Com cuidado, seja nas partes “para inglês ver” ou nas partes mais íntimas, mais nossas. Se tivermos governantes e criadas andamos “mais em cima” a ver o que andam a fazer e a “cobrar” qualquer falha porque, a casa é nossa, gostamos dela, sentimos amor por ela e queremos que os nossos filhos a tenham nas melhores condições possíveis. Raros são os proprietários permanentes que não se preocupam.
É assim que encaro a república e a monarquia. O presidente da república “arrenda” o país como seu por 5 ou 10 anos. Não mais do que isso. Depois disso não são os seus herdeiros, os seus filhos que ele ama, quem tem de preocupar-se com a “merda” que se tenha feito durante o seu arrendamento e sim o inquilino seguinte. Se os governantes roubarem, os criados fizerem um mau trabalho, o presidente não tem de preocupar-se muito, desde que aquilo que o “inglês vê” esteja bem, e desde que o seu futuro pessoal esteja assegurado (vivendo às custas de quem lhe paga para o resto da vida), não tem de preocupar-se muito e, se for preciso, também rouba mais um bocadinho. Raros serão os realmente honestos nesta situação.
Com a Monarquia o Rei “compra” o país como seu para toda a vida e sabe que o mesmo passará para os seus filhos e netos, e tem de manter feliz quem lhe paga para isso (numa monarquia constitucional democrática - a que defendo). Vive nele e se os seus governantes e criados andarem a roubar, fizerem mal o seu trabalho, são os seus filhos quem vai ter de arcar com as consequências no futuro. Os filhos que ele ama e que não quer que sofram. Assim cuida do país como se de propriedade privada se tratasse. Mete a “boca no trombone” se notar casos de “roubos” (corrupções), tenta chamar a atenção de maus "governantes e criados" e orienta as coisas de modo a que o futuro da sua casa esteja salvaguardado e o trabalho dos seus filhos seja cada vez menor. Raros serão aqueles que tenham mau íntimo e não se preocupem quando está em risco um lugar permanente para si e para os seus.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A desistência da Língua


Por Inês Pedrosa: 


Numa das últimas vezes em que escrevi um artigo contra o chamado Acordo Ortográfico, um amigo aconselhou-me a abandonar o assunto porque, estando já prestes a entrar em vigor no Brasil, seria inútil contestá-lo. Acrescentou que a não-adesão criaria problemas económicos a Portugal.

Este modelo argumentativo diz muito sobre o tempo em que vivemos: os espertos são os que seguem o rebanho e desistem de pensar pela própria cabeça, para não levantar ondas. Em caso de resistência, apela-se ao incontestável Deus da Economia, que suspende qualquer explicação.

Sucede que aquilo a que se convencionou chamar Acordo Ortográfico é uma fraude, porque:

a) Não estabelece nenhum acordo (a palavra recepção continuará a escrever-se com 'p' no Brasil e perde o 'p' em Portugal, porque o fundamento da ortografia passa a ser a pronúncia - e ainda por cima o texto refere a “pronúncia culta”, o que agrava o patético do tema);

b) Confunde os utilizadores, dado que a etimologia das palavras, que esclarecia as dúvidas, deixa de se aplicar. Sintoma de uma época que despreza a memória e vive em esquecimento acelerado, este 'acordo' ignora voluntariamente a história e o trajecto da Língua. É mais um passo no caminho do desprezo pela riqueza e pela força da Língua Portuguesa.

Em L'identité malhereuse, o ensaísta francês Alain Finkielkraut reflecte, entre outras coisas, sobre a justificação da ministra do Ensino Superior francês para criar, em 2013, cursos em inglês.
Dizia ela: “Se não autorizarmos cursos em inglês, não atrairemos estudantes dos países emergentes, como a Coreia do Sul ou a Índia”.
Conclui Finkielkraut: “Reina portanto o funcionalismo, que conduz à uniformidade. Assim que o verbo esteja reduzido a veículo, a meio de informação e de comunicação, toda a gente virá buscar o mais confortável (…). Para o novo regime semântico, a forma não conta para nada, só o sentido faz sentido” (tradução minha, porque infelizmente Portugal traduz cada vez menos livros de ensaio, e menos ainda de pensadores contra-corrente, como é o caso deste).
O fascínio supostamente economicista pela língua inglesa está também em franco crescimento nas universidades portuguesas, que julgam ser esse o caminho da internacionalização, do cosmopolitismo, do dinheiro e da glória.
Basta olhar para o desaparecimento veloz da língua e da cultura francesas em Portugal para perceber o resultado desastroso dessa cedência à Língua Imperial (o inglês).

A anulação de uma língua representa a desistência da cultura que ela veicula - não só o apagamento exterior da sua literatura (o que já não é pouco, porque a língua portuguesa sempre se distinguiu pela sua produção literária), como do cinema, do teatro e da música.

Em vez de cuidar do reforço do ensino da Língua no mundo, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tem passado as últimas décadas entretida com um acordo impossível.

Devia olhar para os ingleses e americanos, ou para os espanhóis e para a América hispânica, e meditar sobre como conseguiram eles que as suas duas línguas dominassem o mundo. Não foi com protocolos burocráticos sobre minhoquices ortográficas. Dedicaram-se, pelo contrário, a investir no que interessa e rende: a universalização da Língua.

Artigo publicado no SOL (carregar aqui, ou no título, para aceder ao link original) 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

República ou Monarquia? - Cada país sua sentença.

Se me perguntarem se, teoricamente, eu acho que é mais justo votar-se em alguém do que ver alguém aclamado? Acho que é muito mais justo votar! Sem dúvida!

Na teoria a república é mais justa e mais democrática que a monarquia e, creio, a grande maioria dos defensores da república agarram-se a essa ideia teórica. Mas, se nos agarrarmos a ideias teóricas, também temos de dizer que o comunismo é uma ideia fantástica e muito mais democrática que todas as outras ideologias políticas. E é, teoricamente é. A ideia de uma sociedade igualitária, sem classes, na qual cada um trabalha, igualmente, para o bem comum, é uma ideia linda! Mas não funciona. A URSS, Cuba, China são bons exemplos da falta de democracia, da opressão, pobreza e violência (física e psicológica) a que os povos estão sujeitos na busca da “perfeição democrática” dos seus ditadores comunistas.
Ao contrário do comunismo, no entanto, a república não é um caso de tão grave falhanço, provas disso são repúblicas como a Finlândia ou a Alemanha que funcionam lindamente. Ou os Estados Unidos que, mesmo com falhas, têm o regime que ao seu povo se adequa. E é nesta adequação do povo que está a chave do sucesso. Cada povo, seu regime. Cada povo sua história.
Se me perguntarem se, teoricamente, eu acho que é mais justo votar-se em alguém do que ver alguém aclamado? Acho que é muito mais justo votar! Sem dúvida! Mas, em Portugal, não funciona na prática. É muito bonito, é uma ideia fantástica, mas já provou, bem provado, que, no nosso cantinho à beira mar plantado, não funciona!
Então, qual a solução? A questão de os monárquicos mencionarem a monarquia como solução está no facto de 100 anos de república (com 3 repúblicas distintas) já provaram que a república não funciona. E, se nos dermos ao trabalho de ler livros (não escolares) da história de Portugal, apercebemo-nos que, durante a monarquia constitucional, Portugal, mesmo estando numa crise devido a uma série de factores externos e internos (interno esse, sendo o facto de sermos constitucional há pouco tempo) estava a crescer. Portugal estava na média da Europa e a crescer, a nível financeiro e democrático e continuava português. Seguia uma governação que era a nossa identidade, e não uma, como agora, que se identifica com os franceses e não com os portugueses. Veio a 1ª República e começámos numa decadência brutal a todos os níveis (democráticos, de valores, financeiro). A 2ª república levantou-nos a nível financeiro e recuperou alguns valores, mas democraticamente batemos no fundo e em termos de patriotismo foi-se perdendo mais. A 3ª república é uma podridão! Fora o "sufrágio universal", que por si só não constrói a democracia, e ao qual as pessoas nem ligam por aí além, basta ver os números da abstenção, não temos mais nada. Financeiramente estamos na cauda da Europa, democraticamente também, a nível de valores nem falar, a nível de patriotismo só piora. Foi aqui que chegámos em 100 anos. Desculpabilizar a república é atirar areia para os olhos, negar o nosso passado e permanecer no erro.
Se a monarquia é perfeita? Não! Claro que não é. E não irão ouvir nenhum monárquico, minimamente Realista, a afirmar o contrário. No entanto, segundo o índice de países com melhores níveis democráticos, social e de estabilidade, os 2 primeiros são monarquias e nos 10 primeiros, 6 deles são monarquias. Claro que também os há com falhas, mas se formos comparar com a república, esta última perde e em muito (e se comparássemos a nível percentual então a diferença era ainda mais brutal, pois existem muito mais repúblicas que monarquias). Mas cada país sua sentença. Jamais eu diria que a monarquia funcionaria, por exemplo, nos Estados Unidos, assim como a república não ia funcionar no Reino Unido. Portugal é mais monárquico na forma como funciona, na mentalidade, na "portugalidade", do que republicano. Infelizmente foi feita uma grande "lavagem cerebral" aos portugueses durante 1 século e as pessoas, mesmo olhando, verificando que isto está mal (muito mal), vendo que até esteve melhor na monarquia, percebendo que a estabilidade política na monarquia é muito maior, etc., não conseguem desbloquear o preconceito contra a ideia monárquica. Eu desbloqueei. Como afirmei anteriormente, teoricamente a república é muito mais justa, assim como por exemplo, teoricamente o comunismo é fantástico, na prática não funcionam, e não nos podemos seguir por ideias teóricas, temos de perceber o que funciona na prática e libertarmo-nos de preconceitos para levar as coisas a bom porto.
Creio que o problema essencial dos portugueses está na falta de "sermos portugueses", na falta de orgulho, na falta de interesse e na falta de patriotismo. Isso afecta a nossa forma de ser e os nossos valores (entrando também estes em falta). Todas estas faltas afectam o estado democrático e a crença no mesmo. A meu ver faltam-nos líderes. Faltam-nos símbolos nos quais nos apoiemos e que nos unam num só objectivo e no amor à pátria. Uma coisa leva à outra. Um povo seguro e orgulhoso de si não deixa que o pisem, não fica desmotivado e luta pelo que quer. Isso, eu creio, tenho a convicção, que era mais fácil alcançar com um rei imparcial, que funcionava como símbolo, líder e união, do que com um presidente tão parcial como qualquer outro político, porque enquanto um presidente, por exemplo social-democrata, tem tendência de beneficiar sempre o PSD, um socialista sempre o PS não permitindo uma imparcialidade política, o rei tem essa imparcialidade e o que influencia é por crença pessoal e não por dever alguma coisa a alguém. Porque ele já nasceu rei, não chegou lá com favores de ninguém. É-o naturalmente e, naturalmente, e sem interesses, exerce essa função.
Todos concordamos que isto está mal mas, dentro da república, qual a saída que encontramos? Outra revolução? Eu francamente acho que nos faria mal outra revolução porque os problemas não se resolvem de armas na mão (isso é como tratar uma perna partida com analgésico...) ...Pela democracia? E como? Votando em quê e em quem? Alertando e consciencializando os 90% de portugueses que se estão a borrifar e à espera que "o outro" solucione as coisas? - Sim, este seria o caminho - alertar e consciencializar esses 90% de apáticos, desmotivados, desmoralizados, desportuguesados que cá andam. E como fazemos isso? Como fazemos isso na nossa actual república?
Não podemos esperar 20 anos para que as consciências despertem, Portugal não tem 20 anos. Portugal tem 4 ou 5 (se tiver). É neste contexto que o facto de se alterar a constituição permitindo um referendo para a monarquia pode, rapidamente, consciencializar as pessoas. O facto de aparecer um referendo (e nem é preciso que a monarquia ganhe e se mude de regime), pode fazer com que a mente apática de grande parte das pessoas desperte. Seja porque não querem a monarquia e, como tal, têm de discutir o que está mal na república e exigir essa mudança, seja porque querem a monarquia e, como tal, vão escarafunchar no que está mal na república para mudar mentalidades. Seja por que motivo for era bom um referendo, e era bom que a comunicação social desse mais voz aos monárquicos porque eles, aparentemente, são os únicos que não se limitam a levantar a voz para criticar, também a levantam para apresentar soluções. Essa voz devia ser ouvida, mas ouvida provocando o "medo" republicano e a esperança monárquica. Quer se mudasse ou não, esse temor ou esperança de que, o que temos pode não ser eterno, dariam novo folgo à mentalidade. Agora, o outro caminho que vejo é o silencioso. O daqueles que, não conseguindo mudar as mentalidades à velocidade necessária, agarram em armas e tomam o poder pela ditadura e só nos enterram mais (porque, eventualmente, a apatia e o "desaportuguesamento" vão continuar).
Os portugueses, na verdade, já não se identificam com o que temos, mas também têm medo da monarquia porque lhes fizeram imagens de monstros que vivem à custa do povo em palácios e, como tal, também não se identificam com ela (apesar de ser isso o que, na verdade, têm, mas na república). Estamos com uma crise imensa de identidade e não creio que o caminho seja permanecer aqui a tentar mentalizar as pessoas, e sim pegar numa fórmula tipicamente portuguesa e mostrar que é possível ser patriota, ter valores e continuar em democracia. Parece-me mais difícil mentalizar as pessoas disso pelo caminho republicano (completamente descredibilizado) do que pelo monárquico. Basta que percebam que a monarquia não é absolutista. Porque acredito que, neste momento, o Portugal descredibilizado facilmente aceitaria outro “Salazar” e custa-me imenso perceber que as pessoas mais facilmente aceitem o caminho da ditadura, do que da monarquia constitucional democrática.
Vejo a monarquia como a única actual saída democrática que permite a mudança de mentalidades e a restauração dos valores tão necessária à nossa sociedade, porque, ao haver a mudança iria haver uma reflexão do porquê do povo ter optado pela monarquia e, logo aí, a mentalidade ia mudando.
Não é para meu proveito pessoal que eu apoio uma monarquia, porque nada ganharei, mais do que o resto do país com isso, é porquepensando imparcialmente no bem do país, revendo a sua história, tenho de baixar os braços e dizer: A república não funciona e vai continuar a não funcionar! Se queremos salvar o país desta degradação permanente temos de largar os preconceitos que existem, e tantos, relativamente à monarquia e aceitar que esse é o único caminho possível a seguir se queremos ter alguma hipótese.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Princípios gerais de Moral em 1870


Deveres do Rei ou Chefe de Estado e dos seus Ministros -  Dar aos povos o exemplo de todas as virtudes privadas e públicas e principalmente da piedade e rectidão; da boa fé, dos bons costumes; fazer observar e respeitar as leis, que eles próprios devem ser os primeiros a observar e respeitar escrupulosamente; castigar o crime, recompensar o mérito e a virtude; manter os homens em paz; fazer-lhes justiça; prover à educação religiosa, moral e intelectual do povo; contribuir para o tornar feliz, desenvolvendo e favorecendo a agricultura, o comércio e a indústria, fazendo florescer as Letras, as Ciências e as Belas Artes; e sobretudo inspirando-lhe sentimentos religiosos, o amor dos seus deveres, da ordem, da economia, da obediência às leis, e a dedicação à Pátria.

(pena que isto agora não esteja assim escrito... mas parece que "evoluímos" para a República... dos Bananas).



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O PRÍNCIPE ASSASSINADO - 1887-1908  Por Ana Vicente e António Pedro Vicente

O auto de nascimento regista o dia 21 de Março de 1887 como aquele em que foi dado à luz, no Palácio de Belém, em Lisboa, o primeiro filho de Dona Amélia, Duquesa de Bragança e futura Rainha de Portugal. Seu pai, o Duque de Bragança, subiria ao trono com o título de Rei Dom Carlos. O nome completo do Príncipe da Beira, título atribuído ao filho primogénito, era Luiz Filipe Maria Carlos Amelio Fernando Victor Manoel António Lourenço Miguel Raphael Gabriel Xavier Francisco d’Assis Bento de Bragança, Orleans, Saboya e Saxe Coburgo Gotha. Todas as fontes indicam que a atitude da então Princesa Amélia, face aos seus filhos (Dom Manuel nasceria em 1889) era sempre extremamente atenciosa e carinhosa. Foi, sem dúvida, uma mãe que desfrutava a função maternal com grande prazer e que se ocupava muito directamente dos seus filhos, quer na primeira infância quer durante os anos da adolescência, desejando que em adultos fosses apreciados pelo seu carácter e não pelo seu nascimento. Garantiu assim a ambos um desenvolvimento emocional equilibrado. Escrevendo a sua irmã que se encontrava em Paris, Dona Amélia descreveu o seu bebé como sendo ‘um amor’ e muito inteligente. 

A educação do Príncipe Real foi muito cuidadosa e nela se empenhou D. Amélia no quotidiano. Segundo um servidor do paço, citado pela revista Brasil-Portugal, a Rainha queria que seus filhos se levantassem às 6. Os seus preceptores, todos do sexo masculino, deslocavam-se ao Palácio para aí instruírem os ilustres alunos. Os príncipes estudavam até ao meio dia, almoçavam, recebiam de novo os seus professores e cerca das 15 horas saíam em passeio, geralmente a pé. Ao fim da tarde faziam os deveres escolares e jantavam por volta das 19.30.  

A partir dos 13 anos de idade, o principal educador de Dom Luiz Filipe foi Mouzinho de Albuquerque, uma figura militar lendária, algo exaltada, com uma perspectiva muito pessimista da situação política que o país vivia. Numa carta aberta dirigida ao seu pupilo declarava que entendia como seu principal dever fazer dele um soldado. Em 1901 Mouzinho acompanhou o Príncipe a visitar o norte do país, com o intuito declarado de o levar a conhecer o seu povo. O escritor Rocha Martins, no seu estilo exuberante, refere assim o herdeiro: “um gentil adolescente, branco, mimoso, de cabelo cortado à militar, sorridente e tomado de todas as curiosidades” e que teria sido acolhido com o maior carinho no Porto, passando por Leixões. Deslocou-se ainda a Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo, Penafiel, Grijó, Granja, Braga (incluindo o Bom Jesus), Ponte de Lima, Ponte da Barca, Monção e Caminha. A visita foi muito comentada e também criticada em alguma imprensa, pois os jornais republicanos, que tinham toda a liberdade em escreverem o que bem entendessem, encontravam defeito em toda e qualquer actividade realizada pelos membros da família real, realizando assim uma propaganda persistente e permanente que acirrava a opinião pública contra o regime monárquico.  

Durante a adolescência, o Príncipe esteve, em várias ocasiões, integrado nas visitas oficiais que diversos monarcas ou dignitários estrangeiros realizaram a Portugal. Eduardo VII de Inglaterra visitou Portugal em Abril de 1902, Afonso XIII de Espanha em 1903, o Presidente da República francês Loubet e a Rainha Alexandra de Inglaterra estiveram no país em 1905. Nesse mesmo ano o imperador da Alemanha Guilherme II passou por Lisboa, em visita privada. Em 1902 Dom Luiz Filipe foi a Londres para representar seu pai na coroação do Rei Eduardo VII, mas esta foi adiada devido a doença do monarca. Também esteve em Madrid em 1906 para assistir ao casamento do Rei D. Afonso XIII com a princesa Victoria de Battenberg,que ficou marcado pelo violento atentado à bomba contra os noivos, por parte de um anarquista. Morreram 20 pessoas e houve cerca de 100 feridos.  


O Príncipe Real prestou juramento à constituição política em 20 de Maio de 1901, em conformidade com a Carta Constitucional.  Entre Fevereiro e Maio de 1903 a Rainha D. Amélia achou por bem levar os filhos a fazer um cruzeiro no Mediterrâneo, não só pelo prazer da viagem mas também com intuitos educativos. Dom Luiz Filipe tinha sempre a sua máquina fotográfica à mão e os clichés foram colados num Álbum, relatando esta feliz excursão. O iate Amélia tocou em Cádiz, Gibraltar, Oran, Argel, Tunis, Malta, Alexandria. Também visitaram o Cairo e Jerusalém e diversos portos de Itália.  


O evento político de maior destaque protagonizado pelo Príncipe foi a viagem que empreendeu a África entre 1 de Julho e 27 de Setembro de 1907. Visitou S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, as colónias inglesas da Rodésia e da África do Sul (estas últimas para fomentar as boas relações com a velha aliada) e já no regresso, Cabo Verde. Esta viagem ocorreu num momento particularmente significativo das querelas internacionais que, anos antes, tinham eclodido, relacionadas com a tutela portuguesa no imenso território de uma África então cobiçada e considerada necessária ao progresso europeu. Era ainda necessário refutar as acusações de esclavagismo em S. Tomé e Príncipe e em Angola, as quais, segundo o governo português, eram motivadas por rivalidades comerciais. Até aquela data jamais algum membro da família real se tinha deslocado às colónias portuguesas em África.

 A imprensa republicana foi muito crítica face a esta viagem, enquanto outros periódicos favoráveis à dinastia dos Braganças, davam conta de todos os pormenores das visitas, sublinhando a autenticidade do caracter do Príncipe e a boa recepção de que era alvo em todo o lado. Evidentemente que os muitos problemas que existiam nos territórios que à data se apelidavam quer de ‘Colónias’ quer de ‘Ultramar’, foram de alguma forma torneados ou ignorados publicamente. Por exemplo, na ilha do Príncipe, poucos dias antes da chegada, tinha rebentado uma revolta grave pelo que o África, nome do navio que transportava a delegação oficial, não se deslocou aí. Também havia revoltas no sul de Angola, que preocupavam o governo.  


O regresso foi de novo comentado sob dois pontos de vista opostos. Com virulência da parte dos republicanos e com palavras admirativas da parte dos monárquicos.  


Poucos meses depois, a 1 de Fevereiro de 1908, Dom Luiz Filipe era assassinado, juntamente com seu pai, o Rei D. Carlos, no Terreiro do Paço, em Lisboa, na carruagem em que seguia juntamente com sua mãe, a Rainha D. Amélia e seu irmão, Dom Manuel. Este descreveu a cena num relato doloroso e detalhado de que se citam as seguintes palavras: “Quando vi o tal homem das barbas que tinha uma cara de meter medo, apontar sobre a carruagem, percebi bem, infelizmente o que era. Meu Deus que horror. O que então se passou. Só Deus, minha Mãe e eu sabemos; porque mesmo o meu querido e chorado Irmão presenceou poucos segundos, porque instantes depois também era varado pelas balas. Que saudades meu Deus!” 


Qualquer acto deste cariz violento poderá ter muitas explicações mas jamais qualquer justificação.  Os traços de carácter e a cuidadosa educação que tinha desfrutado, permitem sugerir que o Príncipe Real, Dom Luiz Filipe de Bragança, poderia ter vindo a servir o país de forma hábil e correcta, modernizando as instituições e o estilo da monarquia.  



A instabilidade política, a não realização das grandes esperanças depositadas no regime republicano, que se instaurou em 5 de Outubro de 1910, levou, por sua vez, à implantação de uma Ditadura que perdurou 48 anos. 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

"Por que é que a Monarquia é coisa boa?" pelo professor Leslie Mitchell, especialista em história na Universidade de Oxford.



“1) A Tradição e constância.  A monarquia representa algo que existe à volta de 1000 anos. Uma república nunca pode ter isso, já que qualquer chefe de estado que tenha é relativamente novo.  A monarquia também é iminente, o que significa que teve tempestades e ultrapassou, inclusivamente, as maiores crises. Por exemplo, a ameaça do “pequeno homem com um bigode estranho" (Hitler) é realmente muito pequena quando comparada com o peso histórico e constância da monarquia Inglesa. 


2) A monarquia não custa muito. Sua Majestade a Rainha é apenas a 50ª pessoa mais rica do Reino Unido, e custa ao contribuinte apenas 57p por ano. O Primeiro-Ministro custa ao contribuinte mais. Embora riqueza da família real tenha vindo originalmente do facto deles possuírem e taxarem todas as terras de Inglaterra, actualmente, a "lista civil" é votada no Parlamento todos os anos. Esta lista basicamente, concorda que o país irá financiar a rainha, seu marido, o príncipe 
Filipe, e, enquanto ela estiver viva, a Mãe Rainha, o Príncipe Charles é financiado pelas receitas das rendas agrícolas, no ducado da Cornualha, (País de Gales), tal como a sua posição como Príncipe de Gales. E, a monarquia na verdade, traz muito dinheiro porque é uma grande atracção turística

3) A rainha não pode ser corrompida, porque ela é demasiado rica para ser subornada ou intimidada. Ela tem cerca de 500 milhões de libras de fortuna pessoal. Assim, enquanto um o primeiro-ministro ou funcionário eleito pode ser corrompido, pelo menos, o chefe de estado  não pode ser. 

4) A monarquia é a base da Commonwealth. Há 83 países actualmente na Comunidade Britânica, e a Rainha é a chefe da  Commonwealth. De quatro em quatro anos, todos os 83 países enviam representantes para uma se fazer uma reunião de partilha intelectual. A rainha, é claro, uma política muito experiente, que está no poder à cerca de 60 anos. É muito  útil ter um fórum para discussão internacional, e por isso a Commonwealth é uma coisa positiva. 

5) A Monarquia é um dos poucos factores de união do Reino Unido. Poucas as coisas realmente unem a Irlanda, Escócia, Inglaterra e País de Gales, e a monarquia é uma delas. A união é uma coisa boa. 

Uma das principais objecções à monarquia é que é o pináculo de um sistema de classes. Se alguém se sente desconfortável com a ideia de um sistema de classes, especialmente um sistema de classes flagrante com coisas tais como títulos e títulos de nobreza, então sente-se desconfortável com a monarquia. Americanos tolos!”

domingo, 14 de dezembro de 2014

Liberdade de expressão, república e Monarquia


"Historicamente a república tem vindo a criar problemas à liberdade de expressão. Senão Vejamos:Na república inúmeros jornais foram proibidos, 'empastelados', assaltados. Até jornalistas e ardinas foram presos.Na II república a censura prévia foi oficializada.Na III república apenas um exemplo paradigmático: o "caso TVI".Sobre a Monarquia Constitucional 'oiçamos' Eça de Queiroz nas "Farpas", fascículos mensais cujo lema era 'para baixo': Jornal de luta cruel, incisivo, cortante e sobretudo jornal revolucionário". Não houve qualquer censura ou apreensão. Estávamos em 1871. Concluindo com Eça de Queiroz, agora através de Fradique Mendes: "É preciso ver a 'real realidade das coisas'"

Clara Constanço Stichaner


Eis a diferença entre uma monarquia e uma república. Há crime? julga-se, nem que os acusados estejam ligados à família real. Só assim se pode acabar com a corrupção, não permitindo clientelismos.



Espanha: Infanta Cristina vai pagar 600 mil euros exigidos pelo Ministério Público

A infanta Cristina, irmã do rei de Espanha, vai pagar na próxima semana os cerca de 600 mil euros que o Ministério Público exige pela sua responsabilidade no caso Noos, anunciou o seu advogado.


A culpa é das mamas...

As pessoas admiram-se muito com o Estado da Nação e com a quantidade de corruptos e boys que para aí andam.
Não vejo onde está a admiração dado que somos o mesmo povo que meteu como imagem do actual regime, há pouco mais de 100 anos, uma gaja de mamas ao léu. Depois disso entrar na ditadura foi fácil. Sem as mulheres como eleitoras, sempre que precisavam que se apoiasse uma qualquer decisão metia-se a imagem da gaja de mamas ao léu em frente dos eleitores e eles nem reparavam no que votavam. Deu no que deu. A culpa é das mamas da república.